No coração do Supremo Tribunal Federal (STF), um dos homens mais poderosos da corte parece ter perdido o fôlego. Luiz Roberto Barroso, atual presidente do tribunal, está cogitando algo que poucos imaginavam há alguns meses: deixar o cargo de ministro e assumir uma embaixada no exterior. A informação, ainda não oficializada, ganhou força nos últimos dias e tem gerado reações variadas — desde surpresa até alívio entre aqueles que veem no desgaste do STF a chance de mudança.
Mas por trás dessa decisão, que pode soar estratégica ou até calculada, há um cenário político e institucional delicado. Um jogo de xadrez onde Lula, o PT, o próprio STF e os ventos eleitorais de 2026 começam a se mover com mais intensidade. E Barroso, talvez pela primeira vez, percebe que não é apenas um juiz. É também um personagem político.
O Adeus Antecipado de Barroso
Barroso, conhecido por seu perfil técnico e por anos atuar como operador eleitoral do TSE, virou rosto público da ofensiva judicial contra o bolsonarismo. Sua famosa frase “perdeu o mané”, proferida durante um evento internacional em Nova York, tornou-se símbolo de sua postura provocadora diante da derrota de Bolsonaro nas urnas.
Mas agora, esse mesmo homem parece querer deixar o palco principal. Ele cogita renunciar ao cargo após o fim de seu mandato à frente do STF, previsto para setembro de 2025. A saída seria negociada com o governo Lula, que promoveria Barroso a uma posição diplomática na Europa — uma espécie de premiação pelo papel que ele ocupou no combate às figuras da direita.
Só que essa movimentação não é só uma questão pessoal. Ela mexe com o equilíbrio interno do tribunal, com as expectativas do Congresso Nacional e com o futuro da política brasileira. Se confirmada, a saída de Barroso abriria espaço para uma nova indicação ao STF — um novo nome escolhido por Lula, mas que dependerá do Senado para ser aprovado.
E isso complica tudo.
Barroso e Moraes: Uma Aliança que Começa a Mostrar Rachaduras
Durante anos, Luiz Roberto Barroso e Alexandre de Moraes foram vistos como uma dupla imbatível dentro do STF. Unidos em causas comuns, eles formaram um bloco que ajudou a moldar decisões políticas sob o manto da "defesa da democracia". Mas, nos bastidores, a harmonia começa a estourar.
Muitos ministros já manifestam cansaço com o excesso de protagonismo de Moraes. Suas ordens cada vez mais questionáveis, seus pedidos de prisão sem base clara, suas medidas arbitrárias contra empresas internacionais — tudo isso gerou um desgaste que agora envolve diretamente Barroso, por conta de sua proximidade histórica com o colega.
Com a possibilidade real de impeachment de Moraes pairando sobre Brasília, Barroso entendeu que permanecer no STF pode significar arriscar sua carreira jurídica em meio a uma guerra que ele não controla mais. A pressão popular aumenta. As investigações avançam. E, pior de tudo, o apoio dentro da própria Corte diminui.
Por Que Renunciar Agora?
A resposta é simples: o clima no Brasil mudou. Barroso, que até pouco tempo parecia intocável, hoje vive num ambiente de constante tensão. Desde que ele usou publicamente a expressão “perdeu o mané” para ironizar a derrota de Bolsonaro, ele se tornou alvo direto das críticas conservadoras. Sua imagem passou de técnico a politizado. De isento a partidário.
Além disso, o aumento das denúncias contra o STF, especialmente em relação ao uso ideológico da Lei de Segurança Nacional, ao inquérito das fake news e às prisões de apoiadores de Bolsonaro, colocou a Corte em xeque-mate perante a opinião pública. E Barroso, por estar no topo da hierarquia do tribunal, sente na pele o peso dessas acusações.
Ele sabe que, se permanecer, corre o risco de ser chamado a prestar contas por decisões que tomou como relator de casos polêmicos, incluindo os que envolvem parlamentares bolsonaristas e o ex-presidente Jair Bolsonaro. E, pior, sabe que seu nome pode aparecer em futuros processos de responsabilidade, caso o país vire de lado e uma nova maioria chegue ao poder.
Lula Quer Garantir o Controle do STF
Se a saída de Barroso for confirmada, Lula não perderá tempo. Ele já planeja indicar um novo ministro, alguém alinhado à sua visão e capaz de sustentar sua agenda dentro da Corte. A ideia é clara: preencher o STF com nomes que garantam a continuidade de sua narrativa legalista.
O problema é que o Senado, historicamente maleável a pressões governistas, não está mais tão disposto a seguir o ritmo do Planalto. A relação entre o Executivo e o Legislativo azedou. E muitos senadores, cientes de que as eleições de 2026 estão chegando, já começam a calcular o custo de aprovar outro “Alexandre de Moraes” dentro do Supremo.
Se o próximo presidente for de direita, como muitos analistas já consideram provável, a pressão para que o Senado rejeite essas indicações será grande. E quanto mais nomes de esquerda forem barrados, maior será a instabilidade institucional.
O Xadrez Político do Próximo Governo
Outro ponto crucial é o que acontecerá a partir de 2030. O próximo presidente — seja ele quem for — terá a oportunidade de nomear três novos ministros do STF. Isso significa que, em menos de uma década, o tribunal pode passar de uma composição majoritariamente de esquerda para uma com maioria conservadora.
Esse é o medo real de Barroso e de Moraes. E também o sonho da direita nacional. Se, por exemplo, um presidente como Tarcísio de Freitas assumir o cargo, ele poderá indicar não apenas um, mas vários ministros alinhados com valores republicanos, liberais e anti-intervencionistas.
A possibilidade de que o STF passe de 6 a 5 para 5 a 6 em favor da direita assusta os aliados do atual governo. E Barroso, com olhos treinados no longo prazo, já entendeu isso. Por isso, ele prefere sair antes de ser expulso.
A Tensão Entre STF e Senado Aumenta
Apesar de o STF ter agido como árbitro moralizador nos últimos anos, ele não conseguiu blindar seu próprio corpo de críticas. Ministros são vistos cada vez mais como agentes políticos, e não técnicos. E isso, para uma instituição que depende de respeito popular, é um golpe mortal.
O Senado, que já enfrentou Moraes em diversas frentes, não demonstra disposição para aceitar qualquer indicação feita por Lula sem escrutínio. E se Barroso quiser garantir sua saída tranquila, talvez ele precise fazer uma última jogada: negociar sua renúncia com antecedência, para que o processo não seja visto como uma fuga motivada por pressão externa.
Se ele sair de forma ordeira, talvez consiga evitar o pior. Mas se demorar muito, pode acabar sendo processado por crime de responsabilidade, assim como Moraes. E isso, sim, é impensável para alguém que sempre se viu como herói constitucional.
A Guerra de Nomes no STF Está Apenas Começando
O Supremo, outrora visto como guardião da Constituição, agora parece um campo de batalha ideológica. A luta não é mais entre o bem e o mal, mas entre dois projetos de país: um centralizador, intervencionista e autoritário, e outro que busca limites claros, separação de poderes e liberdade individual.
Barroso entendeu isso tarde demais. Ele apostou no caminho do confronto, da judicialização extrema, do controle de redes sociais e da perseguição a vozes dissidentes. E agora, diante do colapso de apoio ao STF, ele tenta escapar antes que o barco afunde.
Se ele realmente deixar o cargo, isso pode desencadear um efeito dominó. Outros ministros podem reconsiderar sua permanência, especialmente aqueles que sabem que suas decisões recentes podem ser revisitas no futuro.
A Esperança de um STF Mais Equilibrado
Para muitos, a saída de Barroso não é motivo de luto, mas de esperança. Porque ela abre espaço para que o próximo presidente — e a próxima maioria — reconfigure o tribunal. E isso pode significar o fim de uma era marcada por julgamentos tendenciosos, decisões monocráticas e intervenções duvidosas.
Imagine um STF com cinco ministros indicados por Lula e seis pelo próximo presidente de direita. Isso não só mudaria o tom das decisões, como também daria respaldo institucional a demandas como a anistia dos presos do 8 de janeiro, a revisão de medidas abusivas contra jornalistas e influenciadores, e até mesmo a reformulação da Lei de Segurança Nacional, que volta a ser usada para punir opositores.
A troca de figuras no STF é uma das apostas mais altas da política brasileira. E Barroso, ao cogitar a saída, reconhece isso melhor do que ninguém.
O Papel do Senado Será Decisivo
Enquanto isso, o Senado Federal observa de perto. A Casa, que tem poder de chancelar ou barrar indicações ao Supremo, entendeu que sua função vai além da legislação — ela toca o destino do país.
Se Barroso decidir ir embora, o nome indicado por Lula precisará enfrentar não apenas o crivo do Senado, mas também a resistência crescente de parlamentares que não querem mais ver o STF como uma máquina petista.
E isso pode complicar a estratégia do Palácio do Planalto. O governo já sofre com o escândalo do INSS, com a crise energética, com a inflação e com a queda de popularidade. E, agora, precisa lidar com a possibilidade de não conseguir mais manipular o Supremo com tanta facilidade.
Barroso Sai, Mas o STF Continua Ferido
A possível renúncia de Luiz Roberto Barroso não é apenas um fato isolado. É um sinal. É o retrato de um sistema que, ao buscar o controle absoluto, acabou perdendo legitimidade. É a prova de que ninguém está acima da Constituição, nem mesmo os ministros do STF.
Se ele realmente optar por deixar o tribunal, não será por falta de coragem — será por cálculo. Um cálculo frio e racional, ditado pelo medo de que, se ficar, sua história termine não como a de um juiz, mas como a de um político de toga.
E enquanto o mundo assiste perplexo a essa virada, uma coisa fica clara: o Brasil mudou. E o STF, se não mudar junto, pode não sobreviver intacto à próxima década.
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