Conta de Luz Sobe Mais Que a Inflação; Governo Quer Abrir Mercado de Energia


Nos últimos 15 anos, a conta de luz no Brasil subiu muito mais do que a inflação. Em 2010, o preço médio da energia para os consumidores residenciais era de R$ 112 por megawatt-hora (MWh). Hoje, em 2025, já chega a R$ 310 um aumento de 177% .


No mesmo período, a inflação acumulada foi de 122% , ou seja, o preço da energia aumentou quase 45% a mais do que o necessário, afetando diretamente o bolso dos brasileiros.


Essa alta pode começar a ser revertida com uma mudança importante: a abertura total do mercado de energia. A partir de dezembro de 2027 , qualquer pessoa física ou jurídica poderá escolher seu fornecedor de energia, como já acontece com grandes empresas. A medida faz parte da Medida Provisória nº 1.300 , anunciada pelo governo federal.


Atualmente, apenas empresas grandes têm acesso ao chamado mercado livre , onde há mais concorrência e preços menores. Nesse modelo, a tarifa média passou de R$ 102 para R$ 147 por MWh desde 2010 — um aumento de 44% , abaixo da inflação geral.


Rodrigo Ferreira, presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia, critica o modelo atual das distribuidoras, que usam contratos de longo prazo com reajustes anuais atrelados à inflação:

“Esse tipo de contrato foi útil antes, mas hoje só deixa a conta de luz mais cara. É uma herança ruim para o consumidor.”


Subsídios encarecem a energia para todos

Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que há R$ 16 bilhões em subsídios embutidos na conta de luz em 2025. Isso equivale a quase 15% do valor pago pelos brasileiros .


Grande parte desse dinheiro vai para projetos de geração de energia solar e outras fontes incentivadas. Outra parte cobre custos da tarifa social e da energia usada na Região Norte , onde a rede é mais cara.


O objetivo da nova MP é tornar o sistema mais competitivo, com mais opções para o consumidor e preços mais justos. Além disso, espera-se que a entrada de novos fornecedores ajude a reduzir custos e trazer mais transparência ao setor.


Como funcionará a abertura do mercado?

O mercado livre de energia existe desde 1995, mas enfrentou muitos problemas, como inadimplência e disputas judiciais. Tudo mudou quando foi criada a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), responsável por registrar e fiscalizar os contratos entre geradores, comercializadores e grandes consumidores.


Em 2022, uma portaria permitiu que mais empresas de alta tensão entrassem nesse mercado, aumentando a competição e derrubando preços para quem migrou ao modelo.


Com a nova lei, agora até os consumidores residenciais e pequenos negócios poderão entrar no jogo , escolhendo fornecedores e negociando melhores condições.


Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica, apoia a mudança, mas lembra que é preciso ter cuidado:

“A gente precisa garantir que as empresas que vendem energia sejam confiáveis e que o sistema não fique instável”, disse.


Ele defende regras claras para as comercializadoras e a criação de um mecanismo chamado Supridor de Última Instância (SUI) , que garante o fornecimento caso alguma empresa deixe de cumprir o contrato.


Paulo Cunha, pesquisador da FGV Energia, também vê a mudança com bons olhos, mas alerta:

“A abertura é positiva, mas tem que ser bem feita. O caminho tem que ser seguro, especialmente para os consumidores menos preparados.”


A ideia é criar um mercado mais justo e dinâmico, onde cada pessoa possa escolher de quem comprar energia o que pode ajudar a baixar os preços no futuro.


A alta da conta de luz tem prejudicado milhões de brasileiros nos últimos anos. Com a abertura do mercado livre, o governo tenta oferecer mais liberdade e opções ao consumidor comum, algo que já beneficia grandes empresas. Mas para que essa mudança traga resultados reais, será preciso investir em regulação eficiente, proteção ao consumidor e equilíbrio financeiro das distribuidoras. Se bem feita, a reforma pode trazer mais competitividade e preços mais justos. Se mal conduzida, pode complicar ainda mais a vida do cidadão comum. O desafio agora é transformar promessa em prática, sem deixar ninguém pra trás.

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