A viagem da primeira-dama Rosângela “Janja” Silva ao Japão, antes da chegada oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerou dúvidas na Câmara dos Deputados. A deputada federal Júlia Zanatta cobrou explicações sobre a presença de Janja em agendas oficiais, já que ela não ocupa cargo no governo. O Itamaraty respondeu ao questionamento afirmando que a participação da primeira-dama tem valor simbólico e diplomático, mas nem todas as perguntas foram respondidas.
A deputada federal Júlia Zanatta apresentou em março um requerimento pedindo explicações ao Ministério das Relações Exteriores sobre a viagem da primeira-dama Janja ao Japão, antes da visita oficial de Lula. Entre as dúvidas levantadas pela parlamentar estavam: qual foi o objetivo da viagem, se houve gastos públicos envolvidos, quem autorizou a ida e por que ela participou de eventos protocolares sem ter função formal no governo.
Ela também quis saber se Janja teve agenda oficial durante a viagem e como sua presença se relacionava com interesses nacionais. Segundo Zanatta, como Janja não é servidora pública nem ministra, sua atuação internacional merece atenção redobrada.
O chanceler Mauro Vieira respondeu ao Congresso em documento divulgado pelo jornal O Globo, defendendo a atuação da primeira-dama em missões internacionais:
“É importante que a senhora Janja acompanhe o presidente em viagens oficiais, pois sua presença fortalece os laços culturais e institucionais entre Brasil e outros países”, afirmou.
Ele destacou que a viagem ao Japão fazia parte das comemorações de 130 anos de relações entre os dois países e reforçou que a primeira-dama cumpriu papel protocolar, especialmente em compromissos com o casal imperial japonês.
“Sua participação tem caráter representativo, dentro do padrão adotado historicamente por chefes de Estado e suas companheiras”, disse Vieira, justificando a presença de Janja em agendas de alto nível.
Itamaraty evita responder pontos mais sensíveis
Apesar de defender a atitude da primeira-dama, o Itamaraty não respondeu algumas perguntas feitas por Zanatta, como os custos da viagem e quais recursos públicos foram usados. Em nota, o ministério afirmou que não há registros de despesas específicas ligadas à ida de Janja, já que a viagem foi realizada junto com a comitiva presidencial.
No entanto, perguntas sobre critérios de escolha de assessores, falta de divulgação prévia da viagem e o uso ou não do avião da Força Aérea Brasileira ficaram sem resposta.
Isso alimenta críticas de setores do Parlamento, que consideram a atuação de Janja cada vez mais próxima de uma figura institucional, apesar de ela não ter mandato eletivo nem posição formal no Executivo.
O caso da viagem de Janja ao Japão ilustra um ponto delicado: até onde a presença da primeira-dama em missões oficiais pode ser considerada normal ou acaba parecendo algo além do protocolo tradicional?
Para seus defensores, incluir a esposa do presidente em eventos internacionais é uma prática comum em muitos países e ajuda a fortalecer relações diplomáticas e culturais. Mas para críticos, como a deputada Júlia Zanatta, esse tipo de deslocamento precisa de clareza, especialmente quando envolve gastos públicos e acesso a agendas oficiais.
O fato de o Itamaraty ter saído em defesa de Janja, mas deixado questões importantes sem resposta, reforça a percepção de que certas presenças políticas fogem ao escrutínio comum.
Enquanto isso, cresce entre parlamentares e parte da população a dúvida: se o país vive um momento de ajuste fiscal, por que certas viagens e cargos informais são tratados com tanta naturalidade?
Seja por interesse diplomático ou por influência política, o que se vê é que cada vez mais pessoas próximas ao presidente ganham destaque sem passar pelas mesmas obrigações de transparência que governantes eleitos democraticamente. E isso, para muitos brasileiros, levanta dúvidas sobre privilégios disfarçados de representação popular.
0 Comentários