Mauro Cid Mentiu e Violou Regras Estabelecidas Por Moraes, Informa Veja


O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, está no centro de uma nova polêmica. Segundo reportagem da revista Veja, ele teria mentido ao Supremo Tribunal Federal e descumprido regras estabelecidas pelo ministro Alexandre de Moraes durante seu acordo de colaboração.


As revelações indicam que Cid usou um perfil falso nas redes sociais para trocar mensagens com aliados de Bolsonaro algo proibido por decisão judicial. O caso levanta dúvidas sobre a credibilidade das declarações feitas por ele à Polícia Federal e ao STF, além de colocar em xeque os benefícios que ele pode ter recebido por conta de sua delação premiada.


Veja aponta indícios de que Mauro Cid mentiu ao STF

A revista Veja divulgou uma série de mensagens que indicariam que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teria violado as regras de seu acordo de colaboração premiada com a Justiça. Segundo a publicação, Cid usou um perfil oculto no Instagram para manter contato com pessoas próximas ao ex-presidente e repassar versões diferentes dos fatos do que contou oficialmente ao Supremo Tribunal Federal.


Cid firmou esse acordo com o objetivo de ajudar nas investigações sobre o suposto plano de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023. Em troca de depoimentos, ele obteve benefícios como prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica e outros privilégios.


Na segunda-feira, o STF iniciou os interrogatórios dos oito réus do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe. Cid foi o primeiro a prestar depoimento e, por diversas vezes, disse não se lembrar de certos detalhes ou mudou versões já apresentadas anteriormente.


Quando questionado pelo advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, sobre o uso de redes sociais o que lhe era proibido, Cid negou qualquer envolvimento direto com perfis suspeitos. Diante da pergunta sobre o perfil @gabrielar702, ele respondeu hesitante:

“Esse perfil eu não sei se é da minha esposa.”


Defesa chama reportagem de "montagem"

Os advogados de Cid classificaram a divulgação da Veja como uma “montagem”. Eles destacaram que as capturas de tela não mostram data nem horário das conversas, o que dificulta confirmar a autenticidade. Além disso, afirmaram que o estilo de escrita e linguagem usados nas mensagens não condizem com o modo como Cid costuma se expressar.


O acordo de colaboração assinado pelo militar prevê que ele deve falar a verdade, sem omitir ou distorcer fatos. Caso seja comprovado que houve mentira ou desvio de conduta, os benefícios obtidos podem ser cancelados.


Conversas paralelas contradizem depoimento oficial

De acordo com a reportagem, Cid teria usado o perfil falso entre janeiro e março de 2024 para trocar mensagens críticas sobre o processo judicial e compartilhar uma visão diferente daquela dada ao STF.


Nessas conversas, ele teria reclamado do ministro Alexandre de Moraes, responsável pela investigação, usando apelidos como “A.M” e “cão de ataque”:

“O jogo é sujo. Os advogados não vão adiantar nada porque o juiz já tem a sentença pronta”, teria escrito.


Também teria dito que todo o STF estaria enviesado:

“A corte inteira está comprometida. Só Rodrigo Pacheco ou Arthur Lira podem nos salvar.” Ele se referia aos ex-presidentes do Senado e da Câmara.


Além disso, Cid teria criticado a forma como o ministro criava narrativas contra os acusados:

“Ele [Moraes] tem talento pra isso. Podia escrever roteiros para a Netflix”, ironizou.


Em um trecho, ele teria duvidado da fuga de Filipe Martins, outro réu do processo:

“Não precisa de provas, só de narrativas. Quando falam ‘provas’, eles ficam perdidos. Assim como aconteceu com FM, que nem viajou para os EUA.”


Regras descumpridas e possíveis consequências

Cid estava sob monitoramento judicial e tinha regras claras: não usar redes sociais, não manter contato com investigados e não espalhar informações sobre o inquérito. As mensagens, no entanto, sugerem que ele teria feito exatamente o contrário.


Esses diálogos foram feitos enquanto ele usava tornozeleira eletrônica e se apresentava regularmente à Justiça. A quebra dessas regras pode invalidar parte de suas declarações e até os benefícios que ele recebeu com a colaboração.


O caso do tenente-coronel Mauro Cid mostra como os acordos de colaboração premiada estão cheios de riscos tanto para as instituições quanto para o próprio colaborador. Se ele realmente usou identidade falsa na internet e repassou versões diferentes do que contou à Justiça, sua credibilidade cai drasticamente.


Mais grave ainda é o fato de ele estar sendo acusado de descumprir termos do acordo o que pode levar à anulação de seus depoimentos e até ao recolhimento de vantagens concedidas.


Para o cidadão comum, o episódio reforça a ideia de que muitas versões apresentadas dentro de processos podem ser manipuláveis, dependendo de quem está falando e qual é seu interesse.


Se o objetivo da Justiça é encontrar a verdade real, é essencial que todos os depoimentos sejam confiáveis e seguros. Mas quando surgem dúvidas sobre o comportamento do delator, a base da investigação pode começar a trincar.


E agora, com a possibilidade de Cid ter mentido ao tribunal, a bola volta para o Supremo decidir até onde vai a validade das denúncias que sustentam todo o inquérito. Enquanto isso, cresce a percepção de que nem tudo que parece é prova, e nem todas as provas são tão sólidas assim.

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