A Polícia Federal prendeu na manhã desta sexta-feira o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto, acusado de tentar conseguir um passaporte português para Mauro Cid ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e delator no inquérito sobre a suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022.
O caso ganhou força depois que Cid foi chamado novamente para depor, e levanta suspeitas de que houve tentativa de facilitar a saída do país por parte de alguém envolvido em investigações graves. A prisão acontece num momento em que o processo contra os réus caminha para seu fechamento, e pode indicar movimentação estratégica entre aliados do antigo governo.
O ex-ministro Gilson Machado Neto, que comandou o Ministério do Turismo durante o governo de Jair Bolsonaro, foi preso pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (data não especificada), em Recife. A operação também incluiu buscas em Brasília.
A prisão é preventiva e faz parte da investigação que apura se ele teria tentado intermediar a emissão de um passaporte português para Mauro Cid , ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e principal delator no inquérito que investiga um possível plano de ruptura institucional após a derrota eleitoral de 2022.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Gilson teria entrado em contato com o Consulado de Portugal em Recife no mês passado para tentar conseguir um documento que permitisse a Cid deixar o Brasil . O objetivo seria, segundo a PGR, facilitar a fuga do tenente-coronel antes do fim do processo judicial .
“Há indícios claros de que ele procurou o consulado para viabilizar a saída de Cid do país”, afirmou Paulo Gonet, procurador-geral da República. “E, mesmo sem sucesso, é possível que ele continue buscando alternativas em outras representações diplomáticas com esse mesmo fim.”
A suspeita das autoridades é de que Cid possa estar planejando seguir o mesmo caminho da deputada Carla Zambelli, que deixou o Brasil após ser condenada por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça. A diferença é que, nesse caso, haveria ajuda direta de um ex-ministro para que o acesso ao exterior fosse facilitado .
Machado negou qualquer envolvimento com o esquema e disse que apenas ligou ao consulado para marcar uma agenda para seu pai renovar documentos pessoais. Em nota, ele reforçou que não teve intenção alguma de auxiliar Cid na obtenção de cidadania ou passaporte estrangeiro .
A prisão de Gilson Machado Neto surge em um momento estratégico e levanta dúvidas sobre sua real motivação. Para seus apoiadores e integrantes do antigo governo, trata-se de mais um passo dentro de um plano orquestrado para pressionar colaboradores próximos a Bolsonaro e tentar construir acusações sem base sólida , mas com impacto político.
O fato de ele ter sido detido pouco tempo antes de Mauro Cid prestar novo depoimento reforça a suspeita de que haja um esforço para garantir versões que incriminem o ex-presidente , ainda que sejam baseadas mais em narrativas do que em evidências reais.
A imagem que ganha força entre aliados de Bolsonaro é a de que não há crime, mas sim estratégia : enquadrar colaboradores mais frágeis ou expostos, usar a prisão como forma de pressão e obter declarações que deem sustentação ao que já se tornou quase uma narrativa oficial contra o ex-presidente.
Se for confirmado que não havia intenção real de saída do país nem envolvimento direto com qualquer esquema internacional de proteção, a prisão de Gilson pode ser vista como mais um exemplo de como o Judiciário tem usado a gravidade da investigação para influenciar depoimentos e moldar acusações. Tudo isso, sem provas concretas que liguem diretamente Bolsonaro a qualquer ato golpista.
Enquanto isso, cresce entre setores da sociedade a percepção de que certos processos são conduzidos de forma seletiva , onde quem se aproxima das figuras certas sofre punições duras, enquanto outros, com envolvimento igualmente questionável, seguem livres.
O Brasil assiste, então, a mais um movimento judicial que mistura direito penal e disputa política , num clima em que ser próximo de Bolsonaro parece ser, por si só, quase um crime — mesmo sem evidências claras ou condenações firmes. E isso, independentemente da verdade jurídica, alimenta a impressão de que estamos vivendo um momento de retaliação disfarçada de justiça.
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